terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Glutão

Esfomeado e faminto, vejam só, o Glutão habitava a palácios dourados.

Quanta sede de uvas verdes, quanta sede de uvas nobres...

Embriaga-te de paixão, ó Glutão, que és flácido e incapaz de amar!

E na flacidez ele se permitiu viver. E da flacidez ele se permitiu amar.

Quem era o Glutão, que a este palácio veio a habitar?


E por terras derretia sua graxa perolada,

E por terras não vivia sua fome desejada.

Apenas por mesas de feudos e deuses,

Apenas por camas de musas e damas.


Ó Glutão, quem és ti, cuja alma sempre foi enfastiada...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Torno

O cotidiano embruteceu sua alma.

Tornado frio e cinzento pela repetição do imperativo econômico, desaprendeu a ler poesias. De sua memória desvaneceram os pensamentos mais coloridos, as prosas mais deliciosas, as palavras mais sedutoras...

Tornado profundo em linhas retas demais, um geômetra cartesiano descasado das belas formas curvilíneas.

Pois entendam, meus caros, que a beleza está na curva. Na linearidade, apenas a certeza.

Mas somente o caos é certo.

Tornado caótico pela delongada continuidade da tarefa, ousou ousar em um mundo descontinuado. Ousou se permitir viver cambaleando.

Tornado trôpego em palavras moles, esteve certo de que uma vida linear era apenas uma possibilidade teórica.

Um advento literário.

Como tudo.